terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Desafios do comunicador de rádio

É sabido que o veículo impõe vantagens e desvantagens à figura do comunicador. Se, por um lado, a mobilidade consente ao ouvinte a possibilidade de passar horas ouvindo rádio realizando outras atividades, por outro, a mesma mobilidade pode distanciá-lo do comunicador, mesmo com o aparelho permanecendo ligado.
Enxerguemos um primeiro cenário: com o aparelho de rádio ligado na sala, o ouvinte pode transitar por toda a casa, quartos, banheiro, quintal, etc. sem deixar de escutá-lo. Mas certamente, ao estender uma roupa no quintal, estará relativamente distante do receptor (é preciso um volume incomum para escutar o som) a ponto de ou não escutá-lo ou apenas ouvi-lo, ou seja, apenas receber o som.
Um segundo cenário coloca o aparelho de rádio na cozinha onde uma dona de casa prepara o almoço concentradamente no que é veiculado pela emissora “X”. O pequeno espaço da cozinha (aliás, cada vez mais pequeno) possibilita à essa ouvinte uma atividade mais ativa no que se refere ao que é externado pela emissora.
Do ponto de vista empírico, pode-se dizer que essa aproximação permanente com o aparelho coloca a ouvinte em questão em um patamar mais avançado do que definimos como “ouvir”. Nesse caso, nossa ouvinte passa a “escutar” a rádio. Ou seja, abandona um estado passivo, automático (o ouvir) e passa a um estado mais ativo (o escutar) prestando certa atenção, onde há implícita uma dose de intencionalidade.
O teórico espanhol Ángel Faus Belau afirma que escutar implica uma atenção desperta, ativa. Segundo o autor, escutar engloba todo o circuito do pensamento, enquanto que ouvir não põe em jogo mais do que os canais do ouvido, algo involuntário. É evidente que tais formas não são permanentes ao longo da sintonia em uma determinada programação radiofônica. Elas se interpenetram com o transcorrer de um programa em proporções que variam de acordo com as circunstâncias.
Se a competente escuta radiofônica transcende o “ouvir”, é desafio do comunicador de rádio transferir o ouvinte de seu patamar inercial de escuta ambiental (o ouvir) para trazê-lo e, principalmente, mantê-lo em um estado híbrido de “escutar” e “prestar atenção”, o que resulta – por consequência – na compreensão e assimilação, ou seja, na mais satisfatória forma de audiência.

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